Ecos de Casével

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Jornal digital de Casével

segunda-feira, 25 de junho de 2012

As sardinhas/sardinhadas



Quem não gosta de sardinhas? Assadas, cozidas, fritas ou de conserva em óleo ou tomatada, creio que quase toda a gente gosta.
Hoje em dia a sardinha é quase um alimento de luxo, pelo alto preço a que é vendida. Então em época das festas populares, nomeadamente pelo S. João, o preço é deveras exorbitante, parece que neste fim de semana chegou aos 17,5 euros, mesmo com o abastecimento da sardinha espanhola (que dizem de inferior qualidade relativamente à pescada na nossa costa).
Neste contexto, guardo algumas memórias e recordações à volta das sardinhas e da sua importância na alimentação das pessoas.
Noutros tempos, noutras épocas, a sardinha era o bife dos pobres, principalmente do povo da aldeia, dos lavradores.
Duas batatas cozidas, um monte de couves e uma sardinha assada ou cozida, era um prato muito generalizado, mas mesmo assim com algum requinte, pois mesmo a um preço acessível, nessa altura (anos 60 e 70), a sua compra frequente não estava ao alcance da maioria do povo. Recordo-me perfeitamente do tempo em que uma sardinha era dividida por dois ou três irmãos, era o tempo de uma “uma sardinha para três”!
Lembro-me da visita dos peixeiros, sobretudo do Espinheiro, duas ou três vezes por semana, numa camioneta de caixa aberta. Logo que o tempo se aprontava frio, portanto no final do Outono e Inverno, algumas famílias com mais bocas para alimentar, compravam uma caixa completa de sardinhas, que depois salgavam. Com este tipo de conservação tradicional, herdada já dos tempos dos romanos, a caixa, bem administrada, durava umas valentes semanas do Inverno, pois nessa altura do ano era muito difícil a venda da sardinha, devido ao estado do mar mas também por não ser tão gostosa. A este respeito, o povo diz que a sardinha é boa nos meses sem R (portanto Maio, Junho, Julho e Agosto). Depois perde qualidades. Nesta, como noutras coisas, é certa a sabedoria popular.
Hoje em dia a sardinha é consumida habitualmente fresca e quando importa conservar é congelada. Já ninguém salga sardinhas e mesmo que o fizessem as mesmas ficariam intragáveis e rançosas. No entanto, nessa altura as sardinhas conservavam-se com boa qualidade e sempre deliciosas, mesmo depois de salgadas por várias semanas. Para além do mais, não havia outra alternativa à sua conservação pois a eletricidade e claro as arcas congeladoras era equipamento que ninguém tinha.
Agora que o calor tem apertado e é a época dos santos populares, soube bem recordar as sardinhas salgadas no meu tempo de criança. Ainda lhes sinto o sabor e adivinho-as a fumegar num naco de pão caseiro e com um copinho de vinho tinto.


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