Ecos de Casével

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Jornal digital de Casével

sábado, 30 de junho de 2012

A fisga: um brinquedo e quiçá uma arma




















Um dos brinquedos muito populares entre os rapazes do meu tempo de criança, era, sem dúvida alguma, a fisga ou como também dizíamos cá em Casével, a "atiradeira". Pela sua natureza, um objecto que permitia projectar pequenas pedras a longa distância, com algum grau de precisão, dependendo da destreza do atirador, a fisga era um forte complemento das aventuras e brincadeiras, quase sempre versões adaptadas das séries de televisão, de modo especial do tema do western americano, ou seja os "filmes de cowboys".

Certamente que a fisga habitualmente era usada com propósitos pouco recomendáveis, pois quase sempre eram usadas para atirar contra os pássaros, de modo especial os pardais e os melros.
Mais tarde vi em Torres Novas, os mais rebeldes a usarem as fisgas para outras maldades e de forma gratuita, estúpida e mesquinha, como partir vidros e lâmpadas da iluminação pública e danificar a fruta nos pomares dos vizinhos.

Frequentemente eram utilizadas nas "guerras" entre diversos grupos rivais de rapazes, pelo que por vezes o seu uso provocava ferimentos.

Era, pois, um brinquedo, mas demasiado perigoso, diga-se, tanto mais que os rapazes brincavam livremente sem a orientação de adultos, pais ou professores.
Usada de forma adequada, a fisga servia para brincadeiras que implicavam destreza, como atirar contra alvos feitos por latas ou garrafas de vidro.

Para o processo de construção de uma fisga é necessária uma parte de um ramo de uma árvore, em forma de Y, de modo geral seleccionada de um ramo de carvalho, ou castanheiro, pela sua resistência. Também eram necessárias duas tiras de material elástico, com cerca de 25 cm de comprimento e 1,5 cm de largura, norma geral recortadas de uma câmara-de-ar do pneu de motorizada ou bicicleta. Finalmente era preciso o suporte ou a funda para a colocação da pedrinha. Para o efeito usava-se um bocado de couro, em forma de rectângulo, com as dimensões aproximadas de 4 x 8 cm, geralmente recortado de uma bota ou sapato velhos.



A cerca de 1 cm abaixo das duas extremidades superiores eram feitos sulcos circulares para melhor afixar as tiras de borracha. No rectângulo de couro, nas extremidades, eram feitos dois rasgos para passagem das extremidades das tiras de borracha que depois eram devidamente atadas com um fio de sapateiro ou um arame fino, acontecendo o mesmo com as extremidades opostas que se prendiam à galha.

Realizadas estas operações estava construída a fisga ou como dizíamos, a atiradeira. Finalmente, como munições, eram necessárias as indispensáveis pedrinhas, de preferência do tamanho de uma cereja, ou até mais pequenas, quanto mais regulares melhor, sendo as ideais os seixos, pois eram as que garantiam um tiro mais certeiro. Um bom atirador de fisga andava sempre com os bolsos cheios de pedras.

A fisga, apesar dos perigos de um uso indevido, é um brinquedo, quando usado num contexto adequado, sem dúvida, mas noutros tempos mais remotos era sobretudo arma artesanal, tanto usada para caçar como em situações de ataque, cuja capacidade dependia do seu tamanho, sendo o seu conceito aplicado noutras armas.




Para quem pretende reviver o uso da fisga, deixando as crianças experimentar, é conveniente uma adequada vigilância e em local propício, com campo aberto pela frente, não vá acontecer o pior...


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