Ecos de Casével

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Jornal digital de Casével

domingo, 22 de abril de 2012

Memórias da Guerra Colonial: As madrinhas de Guerra

Apesar de saber da existência das “Madrinhas de Guerra”, foi com surpresa que recentemente soube que uma das minhas irmãs, a Estefânia, fez parte desse grupo.
As Madrinhas de Guerra foram criadas para dar apoio moral  aos soldados portugueses incorporados na injusta na guerra colonial africana. Guerra essa que tantas vidas ceifou, estropiou, tanto física como psicologicamente e que também muito me marcou apesar de ainda ser na altura uma criança. Felizmente que aconteceu  o 25 de Abril de 1974 e tudo isso acabou. Apresentamos de seguida um exemplar dessas cartas (aerogramas) de 1969 do nosso amigo José Plácido e amavelmente disponibilizada pela minha irmã. Provavelmente na época outras jovens casevelenses  tiveram também esse papel de serem madrinhas de guerra. Se houver outras contactem-nos, que nós teremos muito gosto em publicar a(s) sua experiência(s).





História: “O que foram as Madrinhas de Guerra?”
“…Apresentando-se o Movimento Nacional Feminino (1961-1974) como uma estrutura de mulheres criada e organizada para apoiar os militares, as suas famílias e o esforço do Estado Português em África, fácil será entender quem foram as "Madrinhas de guerra".
De facto, a secção do Movimento com este nome, incluía nos seus registos e disponibilizava para apoio aos soldados nas colónias, mulheres cuja vontade para o serviço resultava de uma seleção que obedecia aos seguintes itens: nacionalidade portuguesa, maiores de 21 anos, moral idónea, espírito patriótico, coragem, capacidade de sacrifício, confiança na vitória e capacidade de transmissão dessa ideia.
Às "Madrinhas de guerra" era pedido/estipulado a distracção do(s) seus(s) afilhados através da troca de correspondência, em que na mesma fosse expresso a transmissão de coragem, confiança, orgulho pela prestação de um importante serviço à Pátria.
Por outro lado, deviam também estabelecer contactos com a(s) família(s) desse(s) soldado(s), amparando-a(s) em tudo o que fosse possível, nomeadamente em termos morais e materiais.
Registe-se que o pedido dos soldados de "Madrinhas de Guerra" devia fazer-se directamente para a Comissão Central do Serviço Nacional de Madrinhas, onde era devidamente analisado e correspondido de acordo com as possibilidades. Salienta-se que as madrinhas deviam ser da mesma região, cidade ou povoação vizinha do(s) afilhado(s), por questões de afinidade, conhecimento da família e mais fácil prestação de apoio.
Importa dizer que o aumento entretanto verificado do número de pedidos tornou notória a insuficiência de inscrições por parte de voluntárias, explicando-se o tipo de conteúdo que apresentámos no primeiro texto anteriormente transcrito.
Vale a pena deixar claro que as "Madrinhas de Guerra" e aquilo que significavam, pelo tipo de trabalho desenvolvido, foram muito importantes em termos de apoio psicológico àqueles que estava longe de sua casa e dos seus familiares. Significavam algo mais do que o ambiente de combate vivido diariamente. Uma carta recebida e uma carta escrita eram, pois, fundamentais num contexto como aquele em que milhares de homens (jovens) se encontravam. Significavam muito. Ilusões, também. Mas isso fazia parte e mostrava-se de uma relevância extrema.
As próprias voluntárias acabavam por se envolver com as situações. Umas, certamente mais do que outras, acompanhavam com ansiedade o percurso africano do(s) seus(s) afilhado(s) e acabavam por viver intensamente a situação, juntamente com a(s) família(s) a que ele(s) pertencia(m).
Algumas destas mulheres estão ainda hoje vivas. Algumas destas mulheres falaram já do que foi esse seu trabalho. E confirmam. Confirmam o que sentiram, também elas, embora diferentemente, num contexto de guerra...”
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